Criação da Identidade
De modo geral, os trabalhadores são alienados de sua identidade. Uma das formas é com o uso de novas palavras para dar outros significados a quem o trabalhador é. Hoje as empresas chamam os trabalhadores de “colaboradores”, por exemplo. Uma pessoa que começa seu próprio negócio é chamada de empresário, quando, na verdade, está mais próxima de outros trabalhadores do que das elites. Motoboys e motoristas de aplicativos são chamados pelas empresas de “parceiros” para burlarem leis trabalhistas.
O Mito do Empreendedor
Vivemos numa sociedade meritocrática, onde todos temos condições de ficar ricos, bastando apenas “trabalhar duro”. Para isso, o ideal é a pessoa abandonar a vida de CLT e virar um empreendedor. Esse, por sua vez, subiria um degrau na hierarquia e se aproximaria dos empresários, a elite dominante desse país.
Burnout e Frustração
Com o sucesso só dependendo de você, bastando se esforçar, fica mais fácil se exaurir. Quem nunca se sentiu culpado por querer parar e descansar um pouco? Quem nunca se sentiu frustrado por não ter conseguido trabalhar um pouco mais?
Desconexão dos Pares
A pobreza passa a ser não apenas uma condição de classe, mas o símbolo do fracasso pessoal. A trajetória pela superação das dificuldades sociais ganha contornos de “jornada do herói”. Essa jornada é aquela em que alguém sai de uma condição precária, supera tudo e deixa de ser trabalhador como os outros ao seu redor. Isso desconecta a pessoa de sua classe social, num contexto em que ela também não faz parte da classe dominante.
Jornada Solitária
A noção de meritocracia torna a jornada solitária. Você vive um problema relacionado à classe social que pertence, mas a solução depende unicamente de você. O fracasso é carimbado com pensamentos como “mas é só fazer tal coisa”, “é só sentar na frente do computador e fazer”, etc. E você provavelmente vai se deparar com vendedores de cursos com soluções milagrosas.
Luta Coletiva e Saúde Mental
Por outro lado, o que pode acontecer quando a jornada é vivida em conjunto com a classe social e/ou profissional? Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP avaliou integrantes de uma ocupação por moradia do MTST, o maior movimento urbano do Brasil. Muitos integrantes estavam vivendo o problema da falta de moradia e com sintomas de depressão. Durante a ocupação, houve diversas atividades coletivas para a manutenção das famílias que haviam ocupado um prédio, que deveria ter sido desapropriado pelo estado para o fim apontado pelo movimento. O envolvimento em ações coletivas, como cozinha comunitária, deu sentido de vida a participantes outrora deprimidos. Isso ocasionou a remissão de sintomas de depressão e solidão, por exemplo, nos avaliados (Boulos, 2017).
E Você? Já se Sentiu Sozinho na Sua Jornada?
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📚 Referência para este post:
Boulos, G. C. (2016). Estudo sobre a variação de sintomas depressivos relacionada à participação coletiva em ocupações de sem-teto em São Paulo (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).